É árdua a tarefa de acompanhar a história do Yoga ao longo do tempo, já que é certamente muito mais antigo que todos os registos que deste se conheçam. Falar sobre as suas origens é tão difícil quanto tentar explicar a origem do próprio homem.
Muitos são os obstáculos encontrados no caminho, considerando a escassez de recursos para a pesquisa: textos importantes foram perdidos para sempre, o perfil de algumas tradições orais é muito difuso e temos uma enorme dificuldade para localizar cronologicamente as grandes personalidades históricas vinculadas ao Yoga.
Não sabemos quase nada, até mesmo do próprio Patañjali, fora os escassos registos escritos, que beiram a mitificação, e o prestígio que lhe deu a sua obra.
A história do Yoga está indissoluvelmente ligada à história da Índia, que foi o berço da civilização urbana e é a mãe criadora de um vasto universo de ciências e elementos que integram a vida quotidiana de todos nós, humanos, às portas do III milénio.
Para contar-vos a história do Yoga, devemos considerar antes de mais nada que ele é praxis. E, se formos imaginar os sábios ascetas da antiguidade e sabemos que eles existem desde o inicio dos tempos, forçosamente pensamos nalgum tipo de tecnologia orgânica espiritual concreta.
O Yoga é inerente ao ser humano e esteve sempre vivo na memória da Humanidade. Sabemos de antemão que as crianças fazem espontaneamente técnicas de Yoga, sempre na brincadeira, sempre de forma instintiva. Isto, porque ele faz parte da nossa essência.
O Yoga nasce a partir da compreensão das manifestações externas da Natureza e as suas influências subjetivas sobre a consciência humana.
A origem
In illio tempore, os primeiros yogis não fizeram mais do que ouvir e conhecer a própria natureza. No momento em que surgem condições favoráveis, o indivíduo consegue desenvolver o Yoga de maneira sistemática.
Podemos imaginar estes proto-yogis renunciando à segurança que oferecia a vida nas aldeias e nas cidades, internando-se nas profundezas de florestas e montanhas, onde existiam perigos reais como o frio extremo das regiões setentrionais da Índia, avalanches de neve ou a presença de animais selvagens.
A sede de conhecer-se, no mais profundo e absoluto sentido da palavra, transcendia qualquer perigo. A recompensa, mokṣa, a liberdade suprema, bem valia o risco. Esta praxis nasce do inconformismo, da sede de transcender a miséria existencial inerente a todo ser humano, e de eliminar os intermediários entre si próprio e o sagrado.
Se diz que o ócio é a mãe da filosofia. O Yoga pode ter surgido a partir de certas perguntas essenciais: é o homem quem determina seu próprio destino? Pode ele guiar ou transformar esse destino, tornando a própria existência um ato de criatividade?
A introspeção decorrente destas reflexões levou os primeiros ascetas a descobrir as forças latentes em si próprios, Puruṣa e Prakṛti, o Ser e a Natureza. Puruṣa representa a força cognitiva. Prakṛti, a energia manifestada.
Yoga, significa união, é a prática que nos permite desvendar o estado interior em que estas duas forças, também chamadas Śiva e Śakti, se unificam. Como método, o Yoga se baseia na auto-descoberta e na auto-superação, o que tem, por sua vez, repercussões sociais.
Vemos surgir o Yoga bastante antes das filosofias especulativas que se utilizaram para fundamentá-lo. Primeiramente existiu o Yoga; depois, seus apoios filosóficos.
Porque, quando o ṛṣi parte para a floresta e renuncia à vida profana, faz uma série de descobertas sobre si próprio, mas o essencial continua sendo a prática. Houve no início, alguém que fez isto por intuição, karma ou simples necessidade.
O início do paramparā
A fundamentação do Yoga aparece junto com a necessidade que os primeiros yogins tiveram de explicar a sua vivência à próxima geração . Nesse mesmo instante, surge também o sistema de transmissão do conhecimento ou sucessão discipular, chamado paramparā.
E foi assim que o Yoga, originalmente uma técnica de ascese (tapas = ‘tornar-se irradiante’) e contemplação, que pode não ter incluído técnicas fisiológicas sofisticadas, começou a atravessar o tempo.
Durante esse processo foram acrescentando-se novas técnicas, experiências e constatações das sucessivas gerações de rishis, que por momentos o enriquecem e refinam com novas descobertas mas às vezes o rebaixam quando, por exemplo, passam a incorporar a pequena magia popular.
Entretanto, por mais que mudem alguns dos seus conteúdos durante essa travessia, a essência do Yoga continua sempre a mesma: mágica, imutável e atemporal.
A mensagem do primeiro yogin foi válida para os seus discípulos e os discípulos dos seus discípulos e, atravessando as gerações, continua válida para nós, homens do século XXI. Devemos vincular os fios condutores tendidos ao longo do tempo dos quais falamos no início, com as correntes discipulares.
Existe uma linha que se remonta a partir de qualquer praticante conectado com a tradição, ascendendo de discípulo a mestre e recuando no tempo diretamente até o primeiro yogi. Mesmo que desde a nossa perspetiva atual não consigamos ver claramente o início desta sucessão, podemos inferi-la.
Os Yogas no Veda
Olhando à distância, podemos distinguir algumas linhas bem definidas que nascem do Yoga pré-histórico dos tempos védicos (c. 6500 a.C.): um Yoga marcado pelas técnicas ascéticas, um Yoga devocional, uma forma de Yoga do conhecimento, e outro que se caracterizou pelo aspeto mágico.
Veda significa aquilo que foi visto. Os Vedas são a forma de literatura mais antiga da Índia e da Humanidade: são textos sânscritos revelados que constituem o embasamento da tradição hindu. Os Vedas são quatro: Ṛg, Yajur, Sāma e Athārva.
Foram compostos mais de 4000 anos antes da nossa era. Estes mantras aparecem escritos na forma da mais fina poesia e mostram, entre outras coisas, as crenças, costumes e formas de vida deste povo, incluindo fórmulas mágicas, encantamentos e orações dirigidas às forças da Natureza.
Constituem uma excecional obra literária de inusitada profundidade, que contêm em forma embrionária todas as formas de pensamento que abalizaram a Índia ao longo da História, dando origem ao brahmanismo e, posteriormente, ao hinduísmo, incluindo o Yoga.
Como todas as religiões, a do povo védico originou-se como um culto animista em que os fenómenos naturais adquiriam uma personalidade própria, a quem se podia invocar.
Porém, os Vedas são muito mais do que isso: constituem uma impressionante estrutura cosmogônica que finca profundamente suas raízes na astronomia e no cálculo matemático.
Referências às técnicas do Yoga são feitas ao longo do Ṛgveda, obra que nos mostra uma refinada cultura que se remonta ao alvorecer da Humanidade.
Nela, encontramos muitos níveis de correspondências, entre os quais achamos inclusive uma descrição cifrada do corpo sutil, kuṇḍalinī e os sete chakras, sobre a qual se baseiam os diferentes Yogas tántricos.
O próprio sacrifício védico possui um nível simbólico subtil (adhyātmika) que reflete a prática do Yoga. O Ṛgveda respira Yoga em toda sua extensão, sendo Agni a representação da kuṇḍalinī e Soma a personificação do licor sagrado, o néctar (amṛta) do sahásrara chakra.
Os quatro principais deuses védicos se identificam com diferentes tipos de Yoga: Agni, deus do fogo, relaciona-se ao Jñānayoga, o Yoga do conhecimento. Soma vincula-se ao Bhakti Yoga, o Yoga devocional.
Indra simboliza o prāṇa, a força vital, relacionando-se portanto com todos os Yogas que se servem do prāṇāyāma e a respiração. Sūrya, o sol, associa-se à realização por meio de auto-disciplina, estudo e sabedoria.
As Upaniṣads
No período das Upaniṣads (c. 1900 a.C.) começa a se perfilar a sistematização do Yoga. Upaniṣad significa sentar aos pés do mestre [para ouvir os seus ensinamentos].
Porém, segundo Monier-Williams, o termo significa igualmente derrotar a ignorância através da revelação do conhecimento do Supremo Espírito, e define uma doutrina secreta que revela o mistério que jaz sob a aparência das coisas.
As Upaniṣads analisam o aspecto hermético dos Vedas e constituem o embasamento tanto do Sāṅkhya quanto do Vedānta.
São uma coleção de estudos filosófico-religiosos de extensão variável, alguns dos quais falam sobre o Yoga, compostos pelos ṛṣis, pensadores-poetas e filósofos, ao redor de 1900 a.C., mas que só foram fixados por escrito entre os séculos II a.C. e II d.C.
As primeiras Upaniṣads formam parte do Śruti, a literatura revelada do hinduísmo. Novos textos são acrescentados tardiamente, aumentando o número dos treze originais até cento e doze no século xv.
As Upaniṣads mais recentes repetem as ideias das mais antigas, de acordo com as ideias de determinadas escolas de pensamento. As mais extensas e antigas são Īśa, Kena, Bṛhadāraṇyaka, Chandogya, Svetāśvatara, Maitrī e Kaṭha.
Eliminando as barreiras do ritualismo mecânico, os yogis do tempo das Upaniṣads mergulham neles mesmos sem outras ferramentas que a concentração e a meditação.
O que marca a diferença essencial entre o Yoga dos Vedas e o das Upaniṣads é justamente o caráter prático que este assume desde então. A partir das Upaniṣads, o termo Yoga passa a ter a conotação técnica que o caracterizará no futuro.
Essa acepção técnica encontra-se por primeira vez na Taittirīyopaniṣad, Īśvara:4 (Yogātmā) e na Kaṭhopaniṣad, II:12 (Ādhyātmāyoga), VI,II (o texto mais próximo do sentido clássico), mas revela-se a presença das práticas yogis nas Upaniṣads mais antigas.
Assim, uma passagem da Chāndogyopaniṣad, VIII:15 (‘concentrando em si próprio todos os sentidos’), permite inferir a prática de pratyāhāra; da mesma forma, achamos com freqüência alusões ao prāṇāyāma na Bṛhadāraṇyakopaniṣad (por exemplo, I:5,23).
Nenhuma definição destas escrituras pode ser mais exata que a que se encontra nelas próprias: ‘Segure o arco das escrituras, coloque nele a grande flecha da devoção; tensione a corda da meditação e acerte o alvo, o Ser. O mantra é o arco, o aspirante a flecha, o Ser o objetivo. Estique agora a corda da meditação, e atingindo o alvo, seja uno com ele.’
A ‘grande flecha’, que é a nossa própria alma: assim estão concebidos estes textos, dentro de uma síntese simbólica em que cada elemento cumpre sua função alegórica.
Todo o Yoga está contido nestes inspirados versos, muito felizes porque recolhem toda sua radicalidade: apontar ao mais alto objetivo e fazê-lo com entrega, para efetivar reconhecimento de si mesmo como Puruṣa, o Ser Pleno.
Eis um exemplo da sutileza do estilo em que estes textos foram compostos, que combina doses equilibradas de sabedoria, lirismo e transmissão de conhecimento:
‘Há algo para além da mente, e que habita em silêncio nela. Esse é o supremo mistério que transcende o pensamento. Apoiai a vossa atenção e o vosso corpo sutil nesse algo e não o apoieis em nenhuma outra coisa.’
As Upaniṣads constituem interessantes testemunhos de sábios que preferiram manter-se à margem do bramanismo ortodoxo e da própria existência profana para se recolher na vida contemplativa.
Toda uma galeria de personagens adquire vida nestas páginas: no meio da jornada pela conquista da reintegração e da imortalidade surge quase inadvertidamente o cotidiando de seus protagonistas.
O jovem Naciketas, comovido pela modéstia das oferendas de seu pai, decide oferecer a sua própria vida. Seu pai destina-o a Yama, o deus da morte.
‘E Naciketas aprendeu a suprema sabedoria ensinada pelo deus da vida do além, e aprendeu todos os ensinamentos da união interior, o Yoga. Então alcançou o Ilimitado e tornou-se imortal e puro.’
De berço muito mais humilde que Naciketas, o jovem Satyakāma deseja conhecer a sua origem. A sinceridade da sua mãe, longe de desconcertá-lo, é assumida por ele ao responder ao seu mestre:
‘Não sei a que família pertenço. Perguntei à minha mãe e ela respondeu: não sei, meu filho, a que família pertences. Na minha juventude eu era pobre e servi, como serva, a muitos senhores, e foi então que nasceste: por isso não sei a que família pertences.’
Mas o que nos surpreende é o final da história. ‘E o mestre Gautama disse-lhe: Tu és um brâhmane, pois não te afastaste da verdade. Vem, meu filho, tomar-te-ei como estudante.’
Junto a estes seres de carne e osso, as Upaniṣads revelam-se pertencentes à tradição védica nas abundantíssimas referências aos Vedas, dos qual citam-se estrofes inteiras.
Consolida-se assim a urdidura subtil desta cultura, sempre presente em suas criações, ainda naquelas em que a inquietude metafísica e contemplativa pareceria poder prescindir da linguagem da poesia.
Outro aspeto muito interessante destes textos é o de contemplar a atitude radical de quem busca o Absoluto para além do ritualismo ortodoxo.
Porque planteia-se aqui a adoção de uma decisão extrema que estremece a vida civil e social: a instituição da renúncia (saṁnyāsa), presente até hoje na Índia. Estes mestres afastam-se da sociedade e expõem seus achados numa linguagem às vezes, clara, às vezes, carregada de símbolos.
Mas nem todos aqueles que possuem inquietudes desta ordem podem segui-los: os que têm família ou responsabilidades, ou os que ainda sentem-se vinculados ao ritualismo brahmânico ficam à margem desta experiência.
Grande deve ter sido a pressão que estes ‘homens de ação’ fizeram, beirando a marginalidade do bramanismo, pois a resposta às suas inquietudes é uma síntese de elementos quase antagónicos que se recolherão muito posteriormente, na Bhagavadgītā (IV:20): a renúncia ao fruto dos seus próprios atos.
As mais antigas Upaniṣads que mencionam o Yoga, Taittrīya e Kaṭha, apresentam uma linguagem metafórica densa, porém, permeável. Nesta última, que tem como protagonista ao já mencionado Naciketas, o homem é visto como o cocheiro que precisa controlar uma carruagem puxada por cinco cavalos.
Esta imagem aparece como um símbolo múltiplo: o corpo humano é a carruagem, a consciência é o condutor, a mente representa as rédeas, os cavalos os sentidos, e os caminhos que eles trilham, seus objetos. Se as rédeas estiverem frouxas ou o cocheiro desatento, não chegará a seu destino.
Chama a atenção esta linguagem alegórica, se lembrarmos que a raiz da palavra Yoga é jug, que significa precisamente ungir, manter amarrado. Yoga é assumir o controle do seu próprio destino, ser senhor de si mesmo.
Os textos da Kaṭhopaniṣad não revelam detalhes sobre as técnicas do Yoga mas a sua descrição, apesar disso, não deixa de ser completa, posto que indica que o Yoga ‘vêm e vai’ (VI):
‘Quando os cinco sentidos e a mente estão parados, e a própria razão descansa em silêncio, então começa o caminho supremo. Esta firmeza calma dos sentidos chama-se Yoga. Mas deve-se estar atento, pois o Yoga vêm e vai.’
A Svetāśvatāropaniṣad menciona na parte I ‘o Yoga da meditação e da contemplação’ e também o Sāṅkhya: os ‘cinqüenta raios da Roda do Poder de Brahman’ são os cinquenta estados de consciência ensinados.
Um elemento que chama a atenção nesta Upaniṣad (III) é a substituição de Viṣṇu por Śiva como deus supremo. Este texto contém uma descrição completíssima dos benefícios que a prática de Yoga produz, tanto no corpo quanto na transformação da consciência:
“Quando o praticante de Yoga tem completo domínio sobre o seu corpo, que é composto pelos elementos da terra, água, fogo, ar e espaço, obtém um novo corpo de fogo sutil, que é superior à doença, à velhice e à morte.
“Os primeiros frutos da prática do Yoga são: saúde, pouco desperdício e boa tez; leveza do corpo, cheiro agradável e voz suave, e ausência de desejos vorazes.”
O último texto deste grupo, Maitrāyaṇīyopaniṣad, possui apenas doze mantras, mas se concentra na sílaba Oṁ e descreve os quatro estados de consciência contidos em cada uma das letras do pranāva:
‘Este Ātma é o mantra eterno Oṁ, os seus três sons, a, u e m são os três primeiros estados de consciência, e estes três estados são os três sons.’ (VIII).
Técnicas Yoga nas Upaniṣads
O segundo grupo de Upaniṣads caracteriza-se por dar mais detalhes sobre as técnicas do Yoga. Muitas das Upaniṣads, como é o caso da Maitrāyaṇīya ou da Kaṭha, remetem a um conhecimento seguramente muito anterior a elas mesmas, pois repete-se com freqüência o preceito ‘porque foi dito em outra parte…’
As instruções para praticar dhāraṇā que encontramos na Maitrāyaṇīyopaniṣad (VI: 20) possuem detalhes conhecidos por qualquer praticante de Yoga: ‘quem comprime a ponta da língua contra o palato e domina sua voz, sua consciência e sua respiração, vê o Brahman por meio do tarkā.’
Apesar do seu quase explícito hermetismo, as sugestivas instruções para praticar dhyāna estão formuladas com lirismo e precisão. Neste texto (VI:29), como em outros muito anteriores a ele, insiste-se no caracter iniciático do Yoga:
Este conhecimento não deve comunicar-se aos filhos ou discípulos, a menos que estes estejam aptos para recebê-lo.
Entre as Upaniṣads tardias, chama a atenção a Yogatattva, por sua tendência para o concreto e o experimental. É um verdadeiro manual de instruções para yogis, descrevendo em detalhes diversas técnicas, como āsana, mudrā e prāṇāyāma, assim como quatro tipos de Yoga: Mantra, Lāyā, Haṭha e Rāja.
Fora estes śāstras, há outros, posteriores, que também descrevem o Yoga: o Rāmāyāṇa e o Mahabhārata (2000-1500 a.C.), que abordam basicamente o Bhakti, o Jñāna e o Karmayoga, o Yoga da devoção, o Yoga do conhecimento e o Yoga da ação.
Encontramos da mesma maneira o Yogavasiṣṭha e o Yogasūtra (200 a.C.), que recolhem e sistematizam as técnicas de concentração e meditação (Rājayoga), e outros textos tántricos mais recentes, entre os quais se destacam a Haṭhayoga Pradīpikā, o Gorakṣaṣaṭaka, a Śiva Saṁhitā e a Gheraṇḍa Saṁhitā (c. s. XII-XV), que descrevem as técnicas fisiológicas do Haṭhayoga.
Este Yoga busca a realização através do esforço físico extremo. É um verdadeiro atalho através do mais violento esforço que o corpo possa suportar. Dá muita importância à prática de āsana, as posições físicas, ao prāṇāyāma, os respiratórios, e ao ṣaṭkarma, as purificações corporais.
A partir da ‘descoberta’ do corpo, elabora-se uma série de tecnologias que se apoiam nele para alcançar o estado de transcendência:
“O corpo construído pouco a pouco pelos haṭhayogis, os tántricos e os alquimistas correspondia, de certo modo, ao corpo de um ‘homem-deus’. (…)
“A teandria tântrica não era mais que uma variante nova da macrantropia vêdica. O ponto de partida de todas estas fórmulas era naturalmente a transformação do corpo humano em um microcosmos, teoria e prática arcaicas, que se observam aqui e acolá no mundo e que na Índia ariana achavam-se estruturadas desde os tempos védicos.” Mircéa Éliade, El Yoga. Inmortalidad y Libertad, p. 175.
Yoga e hinduísmo
O Yoga surge então paralelamente ao hinduísmo e se faz hoje dentro desse contexto, mas o que é exatamente hinduísmo?
Hinduísmo é o termo usado para designar as instituições culturais, religiosas e sociais da grande maioria da população indiana. O hinduísmo faz a sua aparição durante o alvorecer da civilização vêdica.
Embora não exista uma data precisa a partir da qual possa se dizer que surge a civilização hindu, poderíamos localizá-la entre o ocaso da civilização védico-harappiana (2200-1900 a.C.) e o século VI a.C., a partir do qual possuímos registros escritos.
Não temos evidências históricas para o milénio anterior à época clássica na Índia, mas temos sim abundante material nos planos filosófico e religioso.
As primeiras escrituras do hinduísmo não têm uma data precisa: foram compostas e transmitidas oralmente (parampará) durante um lapso de tempo incerto antes de serem transcritas.
O termo hinduísmo não se restringe ao âmbito religioso, pois em verdade ele não seria unicamente uma religião tal como se concebe no Ocidente: não possui um fundador, nem profetas, nem hierarquia, liturgia, ou dogmas definidos.
Aliás, nem sequer existe uma palavra para dizer religião em sânscrito. A que mais se aproximaria é dharma, que se traduz mais precisamente como justiça ou lei.
Extraído do livro Yoga Prático.
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